A liberdade de não saber. Como o WhatsApp me ensinou a soltar o controle.
- Cintia Natoli
- 9 de set.
- 5 min de leitura

O título pode parecer fútil e até um tanto egoísta, não é mesmo? Mas obviamente não estamos falando de literalmente se alienar a tudo e todos. Não é sobre isso.
Mas quantas vezes você se importou demais com as coisas e a sua preocupação foi 100% inútil? Ela simplesmente não mudou a realidade, só te trouxe desgaste, preocupação, um sono ruim...
Não envolve apenas questões emocionais, mas físicas. Hoje já é mais do que certo que todas as emoções interferem diretamente no corpo físico, alterando a produção de hormônios, neurotransmissores, padrões musculares e até posturais. Além disso, sabemos que um sono ruim afeta nosso cérebro e pode aumentar as riscos de demências, qualidade da memória, foco, recuperação física e performance, do corpo e da mente.
Quem se lembra da época em que não tínhamos celulares. Que a única forma de contato era o telefone fixo e ninguém sabia nada sobre ninguém e estava tudo bem. - E antes disso? - que não existia telefone e o único meio eram as cartas, que levavam dias para chegar, mais muitos dias para chegar a resposta (isso se a carta de fato chegasse ao seu remetente). E também estava tudo bem.
Lembra quando o whatsapp aparecia o online e o sinalzinho azul que você leu a mensagem? Meu Deus, a nossa paz acabou nesse dia. As cobranças por repostas imediatas, o controle dos outros com a nossa rotina e a nossa carência gritante, quando alguém lia e não respondia de imediato. De repente fomos programados para medir nossa importância por notificações em uma tela de celular.
Depois o whatsapp deu a possibilidade de desativar esta função e tivemos um novo problema. A raiva das pessoas por não poderem saber que horas a pessoa entrou, se estava online e se viu sua mensagem... - não sei vocês, mas eu fui muito cobrada, quando desativei essas funções.
Uma pergunta que ouvia bastante, era:
Nossa! Como você consegue ficar sem saber se a pessoa viu sua mensagem?
A questão é que quando você desativa, você desativa o seu mas também perde o direito de saber dos outros. E aí morava o problema das pessoas. Elas até queriam ter essa privacidade, mas se o preço era não poder saber do outro, elas abriam mão.
Um simples botão no WhatsApp mudou a forma como eu me relaciono comigo mesma e com os outros.
Quando desativei o “visto por último” e os recibos de leitura, percebi que junto com essas funções também desliguei uma parte de mim que vivia ansiosa, controladora e preocupada em monitorar cada detalhe. Foi como se, de repente, eu tivesse ganhado a liberdade de não saber — e com ela veio uma sensação inesperada de paz.
Que alívio!
Se libertar de algo que nunca existiu e que de repente tomou um espaço absurdo em nossas vidas por total falta de controle e percepção dos vícios sutis da nova era.
E se você levar esse exemplo para outras áreas da sua vida, é bem interessante também. Afinal, pense num relacionamento. Se você estiver focado na sua paz, em fazer as suas coisas, sem querer controlar a rotina do outro, ou ser o centro da rotina do outro, automaticamente você tem muito mais saúde e a pessoa, também!
Se você tem uma equipe de trabalho, aprenda a delegar e confiar. Vá fazer suas coisas e sinta paz. É claro que "coisas" podem acontecer, mas sem dúvida você será informado.
Você ficar controlando tudo e todos não é saudável para ninguém e não evitará que imprevistos aconteçam. Se acontece com você, poderá acontecer com os outros.
AH!! Mas eu tenho mais experiência. Se eu estiver ali posso prever coisas, que eles não poderiam. Bom, se eles não podem, você não os treinou direito. Eles não estão preparados, percebe?
Isso serve para tudo. Para os filhos quando saem de casa e você fica na aba, querendo saber cada passo. Com o namorado ou marido, namorada ou esposa, quando estão longe um do outro... e por aí vai...
É muito bacana a gente saber sobre as pessoas, manter contato, estar presente. Mas será que estamos presentes de fato? Ou estamos apenas querendo ter controle sobre tudo, toda hora, sem conseguir desligar e ficar inteiro no momento presente? Sem sentir segurança na relação construída? Sem autoestima suficiente para respirar um pouquinho?
Competir com a rotina de alguém é doentio constantemente. Querer ser o centro da vida de alguém o tempo todo, também. Temos nosso valor e precisamos ser valorizados, É CLARO! ... Mas com bom senso, concorda?
No yoga sempre repito a frase: traga a mente para junto do seu corpo. E é sobre isso. Ao se relacionar com alguém, esteja verdadeiramente presente, com a mente e com o corpo. Mas permita-se focar nas suas coisas, enquanto a pessoa foca nas dela.
E daí se a pessoa viu e não respondeu?
E daí que ela entrou às 11:25 e já são 14h e até agora não falou com você.
E daí que ela está online e não é para você?
Nem sempre é por falta de afeto ou importância, pode ter acontecido algo, alecrim dourado.
E se for por descaso, use isso para tomar uma atitude efetiva e escolher melhor quem você quer na sua vida. Percebe? Mas ficar controlando, cobrando e colocando seu tempo e energia em fiscalizar a vida do outro, não é inteligente. Se não te dá moral, tchau! Mas avalie com lucidez, se é isso ou se você está exagerando, combinado?
E lembre-se... as pessoas possuem uma vida, responsabilidades e obrigações. Se você estiver muito carente e não valorizar a sua vida, a sua rotina e as suas obrigações, você nunca será capaz de compreender o valor que a pessoa dá para a vida dela, pois você não dá na sua!
Você só conseguirá viver com essa liberdade, quando a sua vida for mais interessante do que uma tela de celular e sua carência for menor do que o seu amor próprio.
O poder de não ver! Aquilo que não sabemos, não nos fere.
E essas pequenas escolhas trazem leveza. E se algo de ruim acontecer, está tudo bem! Não foi por falta de fiscalização, foi por falta de compromisso, interesse ou caráter, concorda? Onde está sua falha nisso?
Preserve a tua paz acima de tudo, sempre. O controle ou a tentativa de controle é um dos comportamentos que mais crescem com a tecnologia e precisamos nos atentar a isso, para evitar que esse comportamento nos afunde em angústias, frustrações e ansiedades.
Por: Cintia Natoli
Fisioterapeuta Clínica e Integrativa
Saúde Integrativa | Estilo de Vida | Gerontologia | Espiritualidade
Comentários